Há dez anos que os EUA enviam e-mails com informações militares ao Mali devido a uma gralha

Marcia Pereira

Há dez anos, o empresário holandês Johannes Zuurbier foi contratado para gerir o domínio Internet do Mali durante uma década: a que terminou em .ML. Mesmo assim, detectou que muitas das mensagens de correio eletrónico recebidas pelo país africano continham informações privilegiadas dos militares americanos.

Em 2013, alertou para o problema, mas isso não os impediu de continuarem a milhões de e-mails continuaram a chegar para o domínio .ML (o identificador do Mali), mas que são de facto dirigidas ao endereço com o sufixo .MIL e que é utilizado pelo aparelho militar dos EUA.

De acordo com o Financial Timesque foi o primeiro meio de comunicação social a relatar a história, este erro tipográfico teria levado à fuga de informações altamente sensíveis do Pentágono, incluindo documentos diplomáticos, declarações de impostos, palavras-passe, informações médicas e pormenores de viagens de altos funcionários.

(O autor da fuga dos documentos do Pentágono teve acesso a segredos de topo apesar de ter estado apenas três anos no exército).

Um deles, por exemplo, incluía pormenores de uma próxima viagem à Indonésia do General James McConville, chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA. Outra, enviada por um agente do FBI, continha uma carta diplomática urgente da Turquia ao Departamento de Estado dos EUA sobre possíveis operações do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Esta informação é segura de momento, mas poderá ser utilizada pelo governo do Mali, aliado da Rússia, quando o contrato de Zuurbier terminar este ano. “O risco é real e pode ser explorado pelos adversários dos EUA”, explicou numa carta publicada pelo jornal britânico.

Apesar do facto de nenhuma das mensagens ser classificada (uma vez que este tipo de material é enviado por outros meios), os dados tais como inquéritos internosAlém disso, os documentos de identificação dos soldados ou os mapas das instalações militares são susceptíveis de serem revistos por serviços de informação estrangeiros.

Ao longo da última década, Zuurbier afirma ter tentado contactar Washington em numerosas ocasiões. De acordo com o Financial Times, um desses esforços incluiu o pedido de ajuda a diplomatas holandeses, embora aparentemente não tenha funcionado.

(Charles Brown, a escolha de Biden para ser o oficial militar mais graduado da América)

Perante a indiferença das Forças Armadas americanas, o informático passou os últimos seis meses a compilar as mensagens que chegaram por engano. Parece que sim, 117.000 e-mails que tinham o identificador errado. Destes, 1.000 chegaram num único dia.

As provas levaram o departamento de defesa dos EUA a tomar medidas, segundo a BBC. Entre as medidas que terão sido tomadas para garantir que os e-mails com o domínio .MIL não sejam enviados para o local errado seria bloquear os e-mails e notificar os remetentes para validarem os destinatários.

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