Em 2009, Jim O’Neill, o economista que deu o nome ao BRICSpreviu que esta união de mercados iria ultrapassaria o Grupo dos Sete (G7) “dentro de duas décadas”. Isto foi há 14 anos, quando o grupo era um projeto informal de cooperação Sul-Sul que ainda não terminava em S – só no ano seguinte incluiria a África do Sul.
Apesar de ainda não terem passado 20 anos, o criador do clube não imaginava, há mais de uma década, que a sua proposta de aliança entre economias emergentes se transformaria num bloco que procuraria desafiar o hegemonia do Ocidente. No entanto, a determinação dos últimos anos em configurar uma ordem multipolar mostra que os BRICS – até agora compostos por Brasil, Rússia, Índia, China, China e África do Sul – prometem mais do que a cooperação entre mercados e são um bom augúrio para uma mudança de paradigma.
Na quinta-feira, os Estados-Membros anunciaram em Joanesburgo que 2024 terá início com a adesão de seis novos paísesduplicando a dimensão da aliança. Com os novos membros – como os países ricos o Irão ou o populoso Etiópia-, os BRICS representarão uma 46% da população mundiale representará cinco vezes mais pessoas do que o G7. Além disso, o grupo económico ocupará um 29% do PIB mundiale aproximar-se-á dos 43,5% das economias dos Sete.
Vladimir Putin discursa por videoconferência durante a cimeira dos BRICS.
O sindicato, sob o acrónimo de a “maioria mundial” – de que fala o próprio Vladimir Putin – é apresentada como o germe do futuro capitão do mundo: uma organização de nações afastadas dos centros económicos e de poder mundiais para cuidar dos mercados periféricos ao Ocidente. Nas palavras de um funcionário do governo chinês entrevistado pelo Financial Times: “Se alargarmos os BRICS para que representem uma parte do PIB mundial semelhante à do G7, então os nossos voz colectiva no mundo tornar-se-á mais forte”.
Estes países não mostraram qualquer desejo claro de rivalizar com o Ocidente. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, Naledi Pandordisse este mês que é “extremamente errado” ver os BRICS como um projeto anti-ocidental. Além disso, para o Presidente russo, a rivalidade vem da Europa e da América do Norte, que insistem em manter a unipolaridade numa “fórmula modernizada de colonialismo”Putin ataca num discursoNo entanto, existe uma clara intenção de reestruturar os modelos existentes.
(BRICS anunciam alargamento: Irão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egipto e Etiópia)
Os Estados admitidos mostraram-se entusiasmados com a adesão ao grupo no próximo ano. A Etiópia ofereceu-se para construir pontes entre os BRICS e os mercados da África Oriental. A Liga Árabeque passa a ter três membros nos BRICS, afirmou que a adesão a este “importante bloco internacional” reflecte “a crescente influência árabe na tomada de decisões internacionais”, nas palavras do secretário-geral. Ahmed Abul Gheit.
O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silvadisse na quinta-feira que os BRICS vão receber mais membros num futuro próximo. De acordo com fontes governamentais sul-africanas, 23 Estados já manifestaram a sua vontade de aderir à união. Mas o processo será gradual: o Presidente brasileiro insistiu que serão os países fundadores a escolher os seus membros. de acordo com a sua importância geopolítica e não a ideologia dos seus governos. “Não podemos negar a importância geopolítica do Irão e de outros países que irão integrar os BRICS”, acrescentou.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Faisal bin Farhan Al Saud, na quinta-feira, durante a cimeira dos BRICS.
Mas os cinco membros actuais não estão em uníssonoprecisamente. A negociação da declaração conjunta para o alargamento do clube já foi fastidiosa, com divergências entre a África do Sul e o Brasil – Lula já falou em apoiar a candidatura de Angola, Moçambique, RDC e Nigéria. A pressão para se chegar a um acordo antes da noite de quarta-feira impediu a inclusão no documento dos critérios de admissão dos candidatos.
Por conseguinte, a multiplicação do número de membros poderia complicar ainda mais a tomada de decisões. “Vai ser definitivamente um problema se eles forem fazer tudo por consenso. O modelo deve ser alterado… para votação por maioria“Patrick Lukusa, especialista em cooperação internacional na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, disse numa entrevista a à Reuters. “Já há diferenças entre os cinco sobre a moeda comum, e se houver mais dez?”, pergunta.
(O Brasil integra a Argentina no “hemisfério BRICS” e procura inverter ocrise com a ajuda do seu Banco de Desenvolvimento)
(O plano da China para travar o dólar na América Latina: alimentar os países em crise com yuan)
A ordem de trabalhos desta semana incluía outras questões, como a definição do caminho para a desdolarizaçãoque será debatida no último dia. De acordo com fontes do Financial TimesA cimeira poderá centrar-se na procura de um acordo para incentivar a utilização de moedas nacionais. Não está prevista a adoção de um moeda comumnem concorrer com a SWIFT.
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